Afeto de cadela com filhotes foi espontâneo, garante moradora de 57 anos.
'Mãe natural' não se incomoda e parece confiar em 'mãe adotiva', diz dona.
Há um mês, a auxiliar de serviços gerais de Franca (SP), Nina Azevedo (SP), se viu diante de uma situação inusitada dentro de sua casa no bairro Jardim Luiza II. A sua cachorra Jade, de 2 anos, mestiça das raças pit bull e fila, adotou como se fossem seus os cinco filhotes da gata Mel, de dez meses. “Eu nunca vi isso, até tentei obter ajuda sobre como agir, com medo de que ela fizesse algo com os gatinhos”, afirmou.
Segundo Nina, quando aconteceu a primeira aproximação entre a cachorra e os recém-nascidos, a primeira impressão foi de que Jade machucaria os pequenos gatos. Mas logo o que poderia ser uma convivência perigosa se tornou uma relação de afeto inesperada. “Quando a Mel teve os filhotes fiquei com medo. A Jade começou a lambê-los e fique com medo de que fossem comidos, mas ela os adotou, acabou ficando com eles. Ela chora por causa deles”, conta a auxiliar de serviços gerais.
Se o comportamento da cachorra foi surpreendente, assim também foi o modo como a mãe natural, a Mel, encarou a situação, relata a moradora de Franca. Como se confiasse em Jade, a gata abandonou os filhotes aos cuidados da pit bull e continuou a manter uma rotina semelhante à que tinha antes de engravidar. “A Mel passeia muito, virou uma coisa. Sai pela rua paquerando. Ela não esquenta a cabeça. A Jade é igual a mim, é mais responsável”, diz Nina, comparando seu instinto materno com o da cachorra.
De acordo com a criadora, a relação de afeto se estabeleceu principalmente depois que Mel parou de amamentar por ter leite insuficiente para os filhotes. Espontaneamente Jade tomou os gatinhos da mãe e passou a amamentá-los. “A Mel ficava com eles, mas a Jade tirava e logo começou a dar de mamar naturalmente, sem necessariamente ficar prenha.”
O temperamento amigável da pit bull, criada desde quando tinha 20 dias de vida por Nina, também ajudou nesse processo, segundo ela. “A Jade chegou a ter filhote quando tinha dez meses, teve oito filhotes, os vendi. Ela é companheira, não briga, não estranha ninguém. Só não aceita outro cachorro ou outro gato dentro do quintal”, explicou Nina.
Gravidez psicológica
Segundo o médico veterinário e voluntário da Associação Vida Animal (AVA) de Ribeirão Preto, Marlus Mazer, o comportamento de Jade é normal. “É comum acontecer este tipo de prática. A cadela pode ter tido uma pseudo gestação devido aos estímulos visuais gerados ao ver os filhotes da gata, e táctil no momento em que eles estão se amamentando nela. Estes estímulos são responsáveis pela produção dos hormônios responsáveis pela produção de leite”, explica.
Sobre a possível gestação psicológica de Jade, Mazer explica que isso poderia ter acontecido não apenas com os filhotes da gata. “Qualquer animal ou até um objeto inanimado, como um urso de pelúcia ou uma garrafa pet, podem despertar no animal a gravidez psicológica. O que é indicado é castrar o animal, porque esta pseudo gestação, pode gerar descontrole hormonal e a criação de tumores no útero ou no ovário, colocando a vida dele em risco.”
Sem condições de cuidar de todos os animais e com mais uma gestação da Mel confirmada, a auxiliar de serviços gerais disse que pretende doar os gatinhos. Mais do que da mãe natural, o mais difícil, segundo ela, será afastar os gatinhos da mãe adotiva. “Eu vou doar os filhotes. A Mel vai ganhar mais filhotes daqui uns dia de novo. Mas estou com dó de tirá-los da Jade. A Mel não está nem aí”, diz.
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