domingo, 8 de dezembro de 2013

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A devastação provocada pelo Tufão Haiyan nas Filipinas revela a urgência no combate às mudanças climáticas
MARCELO MOURA
23/11/2013 10h00
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DEVASTAÇÃO
Morador caminha sobre destroços em Tacloban. O Haiyan destruiu 90% da cidade, com ventos de mais de 300 km/h (Foto: Erik De Castro/Reuters)

"Saquear não é crime, é autopreservação.” A frase do prefeito de Tacloban, Tecson John Lim, dá a medida do horror que se instalou nas Filipinas após a passagem do Tufão Haiyan (ou Iolanda), no sábado, dia 9. O odor de cadáveres em decomposição dominava o ar do município de 200 mil habitantes, na costa do Sudeste Asiático, dias depois que ventos vindos do Oceano Pacífico, a mais de 300 quilômetros por hora, varreram 90% da cidade. As palavras de Lim expunham o desespero de moradores que saíram em busca de suprimentos básicos, como água e remédios, numa cidade onde muitos comerciantes e donos de casas invadidas morreram na tragédia. Inicialmente, as autoridades estimaram em 10 mil os mortos no país. Dias depois, o presidente Benigno Aquino reduziu a previsão para 2.500. Cerca de 620 mil pessoas ficaram desabrigadas. Longe dali, na conferência sobre o clima (COP-10) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Varsóvia, na Polônia, já era apontado um culpado: o ser humano. Yeb Sano, negociador-chefe filipino, implorou por mais iniciativas dos países ricos contra as mudanças climáticas. “Falo pelas incontáveis pessoas que não poderão mais falar”, disse, em meio a lágrimas. “O que meu país enfrenta, como consequência desse evento climático extremo, é uma loucura. A crise no clima é uma loucura.”

É impossível afirmar, categoricamente, que a tragédia do Haiyan seja consequência direta das mudanças no clima da Terra. Os tufões formados no Pacífico são menos estudados que os furacões do Atlântico. As Filipinas investem pouco na compreensão de fenômenos naturais. O último voo de estudo de tufões naquela região foi promovido há três décadas, pelos Estados Unidos. Pesquisas realizadas em outras áreas do planeta permitem dizer que as temperaturas mais altas no planeta são, sim, capazes de agravar tragédias como a das Filipinas. Tufões, furacões e ciclones são tempestades formadas por áreas de baixa pressão atmosférica sobre regiões aquecidas dos oceanos. A frequência dessas tempestades não aumentou nas últimas décadas – de janeiro a setembro deste ano, foram 23 no nordeste do Pacífico. A fúria do fenômeno, sim, já que nas últimas décadas os oceanos se aqueceram. “Oceanos mais quentes dão mais energia a essas tempestades e as tornam mais intensas”, diz Colin Price, diretor do Departamento de Ciências Geofísicas, Atmosféricas e Planetárias da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) afirma que a alta do nível do mar, resultado do derretimento de calotas polares, aumenta as chances de inundações e fortes tempestades. Com mais água nos oceanos, um fenômeno como o Haiyan se torna mais destruidor para populações costeiras – grande parte da devastação em Tacloban foi causada pela água do mar, como um tsunami. “É prematuro dizer que o Haiyan tenha sido fruto da ação humana”, diz Thomas Knutson, pesquisador-chefe de impactos no clima da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa). “Mas nossos estudos sugerem que até o fim do século o aquecimento global deverá aumentar a incidência de furacões entre 2% e 11%.”


O consultor Robert Bea, mestre em prevenção de desastres e professor emérito da Universidade Berkeley, alerta para o atual despreparo de muitas cidades costeiras. “Os pioneiros das Filipinas construíam em regiões ‘altas e fortes’ para evitar os efeitos dos tufões”, afirma Bea, sobre uma prática abandonada com o tempo. Os antigos filipinos sabiam que a fúria da natureza é incontrolável. Se ela tende a aumentar, como creem os cientistas, combater o aquecimento do planeta é imperativo. Ainda mais urgente é proteger as populações que vivem no caminho da destruição. 



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