Livro escrito por
cem especialistas traça o mais completo perfil sobre a vegetação da região e
prevê o fim de um dos mais importantes rios brasileiros
POR CLÁUDIO MOTTA
25/09/2012
10:25
RIO - É equivalente a dar oito voltas na Terra — ou a andar 344 mil
quilômetros — a distância percorrida por pesquisadores durante 212 expedições
ao longo e no entorno do Rio São Francisco, entre julho de 2008 e abril de
2012. O trabalho mapeia a flora do entorno do Velho Chico enquanto ocorrem as
obras de transposição de suas águas, que deverão trazer profundas mudanças na
paisagem. Em 556 páginas e quase três quilos de textos, mapas e muitas fotos, a
publicação é o mais completo retrato da Caatinga, único bioma exclusivo do
Brasil e extremamente ameaçado. O título do primeiro dos 13 capítulos, assinado
por Siqueira, é um alerta: “A extinção inexorável do Rio São Francisco”.
Ao registrar o estado atual do Rio São Francisco, o pesquisador
estabelece pontos de comparação para uma nova pesquisa, a ser feita no futuro,
medindo os impactos dos usos do rio. Além do desvio das águas, há intenso uso
para o abastecimento humano, agricultura, criação de animais, recreação,
indústrias e muitos outros. Desaguam no Velho Chico milhares de litros de
esgoto sem qualquer tratamento. Barramentos — sendo pelo menos cinco de grande
porte em Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó — criam
reservatórios para usinas hidrelétricas. Elas produzem 15% da energia
brasileira, mas têm grande impacto. Alteraram o fluxo de peixes do rio e a
qualidade das águas, acabaram com lagoas temporárias e deixaram debaixo d’água
cidades ou povoados inteiros, como Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e
Sobradinho. Não foram as barragens
as únicas culpadas pelo esgotamento de estoques pesqueiros do Velho Chico.
Programas de incentivo da pesca, que não levaram em consideração a capacidade
de recuperação dos cardumes, aceleraram a derrocada da atividade.
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