Revi meio século de mim visitando Marília, onde morei 
com a família, em 1960-63, e depois estudei morando lá 
sozinho em 66-67.
         O velho Instituto de Educação Monsenhor Bicudo, 
onde cursei ginásio, virou… Museu de Paleontologia! 
Me senti um fóssil. E o novo instituto, onde cursei 
o Clássico, continua lá, só que os terrenos baldios e
 pastos em volta, pois era no fim da cidade, viraram 
bairros! Vi de longe minha sala lá no terceiro andar, 
e o coração apertou, mas continuei a ronda da saudade.
A Farmácia Santa Isabel, do pai de meu colega 
Guido Rossini, não existe mais. Aliás, na mesma quadra
 só o bar de um nikei, que claro já se foi, continua tocado 
pelo filho. Perguntou se conheci seu pai, falei não, mas
 conheci muito o sorvete que ele fazia… Oh, coração!
A casa em que morava meu amigo 
Álvaro César Mesquita Serva… foi derrubada, o terreno agora
 ostenta loja, entre muitas outras na quadra que era 
só residencial. Sossega, coração!
O Cine Pedutti, onde a gente ia de paletó e gravata aos 
catorze anos, homenzinhos nos primeiros namoros… 
virou Assembléia de Deus! Pára, coração!
O Yara Clube, onde dancei tantos bailes (aos 13-14 anos, sim!) 
e até ganhei concurso de twist… virou comércio. 
E o pátio da manobras da ferrovia, quem diria, virou shopping, coração.
Passei pelo então grupo escolar, que agora é Diretoria de Ensino mas
 continua com dois pés de fícus-benjamim na calçada, majestosos, 
já eram grandes então e cresceram muito mais! Placa  assinada 
pelo prefeito Abelardo Camarinha (de quem fui vizinho e com
 quem na rua brinquei de pique-salva!), informa que as
 majestosas árvores foram plantadas em 1944 pelo 
menino Leonel Ramos de Oliveira. As arvoronas 
parecem dançar ao vento, cantando cheias
 de passarinhos. Co-ra-ção…
Aí cheguei à casa onde morei com mãe e irmã
 (aí estou com elas na foto), e o coração disparou, 
a casa continua lá! Inteirinha, com a charmosa
 varanda envidraçada e, no jardim, canteiros 
em três níveis, recobertos com cacos de 
cerâmica, só um solto, serviço de pedreiro 
preciosamente magnífico.
Agora a casa tem portão eletrônico
 e muro de grades, por onde fiquei espiando. 
Aí pensei: e se pensarem que sou ladrão espreitando? 
Rondei pela calçada, coração aos pulos. Mais umas olhadas. 
E uma vistada pelas casas vizinhas, a ver se ninguém olhava. 
Mais umas espiadas. Até vejo lá dentro a rapaziada dançando 
descalços na sala, para não riscar o piso de tacos. Celly Campelo 
e Elvis Presley com pipoca e guaraná e…
Subi rua acima, vida afora, tropeçando em meio-fios, cego de coração.