Sou dessas pessoas que traçam um plano mental - supostamente infalível - à respeito de todas as coisas no meu dia a dia. Antes de dormir não penso em coisas prováveis, mas no meu mundo absurdamente fictício e impossível de se tornar real. Se vocês acham que eu estou sendo pessimista, me digam quais as minhas chances de ganhar na mega sena sem apostar. É assim que eu funciono. Entenderam? Provavelmente não.
Para alguns, não há problema nenhum em ser um eterno sonhador, afinal, todo mundo precisa de meia dúzia de sonhos para se apegar. Acontece que a minha imaginação avantajada torna-se uma pedra no meu sapato quando eu me deparo com o mundo real. Nada acontece como eu planejo. Nada. Antes isso chegava a ser frustrante, mas com o tempo eu fui aprendendo a lidar com as n variáveis da vida. No final das contas, achei o x da questão: eu preciso aceitar e entender tudo aquilo que não posso mudar como um singelo presente da vida. Nunca achei que fosse boa em matemática, mas resolvi um problema.
São Francisco de Assis tem uma frase que retrata bem isso e eu procuro mantê-la como uma sabedoria para a minha vida. Ele diz assim:
"Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado... Resignação para o que não pode ser mudado... E sabedoria para distinguir uma coisa da outra."
A possibilidade de eu ser mais alta, mais bonita, menos cega e acordar sem aqueles velhos problemas que nasceram comigo, é zero. Minhas tentativas de voltar ao tempo para desfazer os meus pecados nunca darão certo, não posso enviar um script de uma conversa que quero ter com uma pessoa e decorar todas as minhas falas, aquele mico que paguei será sempre lembrado, o papel de trouxa também. Não posso controlar as reações do meu corpo à uma comida ou situação. Provavelmente, meu pai não estará milionário quando eu acordar amanhã e agora é tarde de mais para fazer um intercâmbio de Ensino Médio ou ter aulas de balé.
Sabe, não teria graça se minha vida tivesse o roteiro que escrevi. Se eu me casasse com aquele primeiro cara pelo qual me apaixonei, não teria aprendido nada com ele, muito menos com o segundo cara. Grandes lições, diga-se de passagem. Se não fossem as milhares de dúvidas, a mente cheia, o coração vazio, a crise de ansiedade, se o sapato não estivesse machucando o pé, se a cabeça não estivesse doendo, se o ônibus não estivesse lotado, se ele nem ao menos olhasse para mim, não seria eu. Posso afirmar com segurança e desfrutando de todas as minhas faculdades mentais que eu seria muito infeliz se eu não fosse eu.
"Um fato não pode ser mudado, mas como você convive com ele sim"
Depois de tentar controlar tudo ao meu redor achando que o mundo era uma caixinha de marionetes, eu desisti. Deixo à critério e a rigor de Deus (ou do destino, caso você não acredite nEle) fazer todas as escolhas sobre a minha vida. Que dê errado onde tiver que dar, que doa, machuque e sangre. Vou errar, quebrar a cara e me arrepender mil vezes. Vou querer ter nascido de novo ou morrer naquele instante, mas que assim seja.
Algumas vezes é difícil, mas hoje já não me permito sofrer por aquilo que foge do meu controle. Que fuja, corra! Eu correria de mim também. Prefiro investir a minha energia em tudo aquilo queainda dá tempo de ser feito, e vou correndo atrás disso. Hoje, ao deitar minha cabeça no travesseiro, quero pensar em todas as possibilidades possíveis e alcançáveis que tenho para amanhã, chega de sonhar em como seria incrível nascer na família real britânica. E que nenhuma das minhas limitações me doam, mas me tragam esperança para conquistar coisas novas e bem melhores do que eu imaginei. Um dia isso dará certo e não estou sendo utópica ao acreditar nisso.
Ah, não posso esquecer de dizer que aprendi tudo isso com a vida: essa coisa fantástica que gosta de me contrariar e já f*deu pra caramba, mas que agora é uma valiosa professora. Obrigada, vida!
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