Aos 22 anos, a brasileira Anielle Guedes tem um objetivo audacioso: revolucionar a construção civil, um dos setores que mais empregam pessoas e movimentam dinheiro na economia brasileira. Criadora e presidente da Urban3D, ela quer fazer isso com a combinação de novos materiais e tecnologias usados em canteiros de obra. O primeiro é um concreto especial que leva matéria-prima reciclada em sua composição. Ele será usado em impressoras 3D para fazer vigas, paredes e calçadas. Quando a tecnologia estiver pronta, será possível construir um prédio de até cinco andares em poucas semanas, com custo até 80% menor que o praticado pelo mercado.
Apesar da pouca idade, Anielle já tem quase dez anos de carreira. Sua primeira experiência como empreendedora aconteceu quando ainda era adolescente. Na época, criou um projeto de lei sobre o reúso de água como trabalho escolar, e desde então não largou mais a sustentabilidade. Após se formar no ensino médio, passou em física na USP. Não gostou. Em 2013, voltou a estudar, mas dessa vez no prédio de Economia — queria aprofundar-se em desenvolvimento de negócios. De novo, não era bem o que queria. Hoje Anielle vive um momento de transição. Planeja mudar-se para a Califórnia, nos Estados Unidos, para fazer uma pós em desenvolvimento internacional. “Escolhi um campo de fronteira de conhecimentos, e assim acabei caindo no cutting edge [‘inovação’, em tradução livre], algo que as universidades não ensinam. Não se aprende a ser inovador”, diz ela.
O mais perto que Anielle chegou de um curso assim tão inovador foi em 2014, quandopassou três meses estudando na inovadora Universidade da Singularidade, localizada dentro de uma base da Nasa no coração do Vale do Silício. Foi ao lado de empreendedores de várias nacionalidades que ela teve contato com profissionais e empresas renomadas dos setores de inteligência artificial e impressão em 3D. A ideia de montar uma startup focada em desenvolver tecnologias para a substituição dos meios convencionais da construção civil surgiu daí.
“Não vamos dar conta de construir tudo aquilo de que precisamos se utilizarmos os métodos de sempre. É hora de buscar mecanismos mais eficientes, econômicos e sustentáveis”, afirma Anielle, que palestrou este ano sobre o tema na Organização das Nações Unidas e no G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do planeta. “O objetivo da Urban3D é desenvolver essas tecnologias e levá-las para o mercado”, diz ela.No momento, a startup trabalha na captação de novos investidores e já negocia o primeiro projeto: a construção de escolas via impressão em 3D, em bairros do Rio de Janeiro, até 2016.
Apesar do sucesso, Anielle ainda sente dificuldade na hora de empreender no Brasil. O principal motivo é o conservadorismo que marca a inovação tecnológica, que prejudica na conquista de novos investimentos. Entre os maiores obstáculos estão o excesso de burocracia e o receio dos investidores com relação a projetos de médio ou longo prazo. “O investidor brasileiro sai direto do mercado financeiro, está acostumado a operações cujas dinâmicas acontecem no dia a dia. Mas startup não é dia a dia, startup demora”, ela afirma. Embaixadora no Brasil da instituição Women@The Frontier, Anielle reforça a relevância da rede internacional, que une mulheres inovadoras ao redor do planeta: “É importante que uma iniciativa como essa exista, especialmente quando há dificuldade de aceitação, por boa parte da sociedade, de um grupo que é minoria social e, ao mesmo tempo, maioria geográfica”.
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