Como e onde trabalhar com urbanismo
Por Cíntia Marcucci
Edição 238 - Janeiro/2014
Uma análise das notícias dos últimos anos das grandes cidades brasileiras faz perceber que não há nada mais urgente do que repensá-las. Especulação imobiliária, reivindicações por mais parques e espaços públicos, crescimento da demanda por infraestrutura para bicicletas e até as manifestações de junho, que pediram mudanças no transporte público - cuja questão de fundo trata da melhoria da mobilidade urbana.
Boa parte desse novo desenho das cidades passa pelas cabeças e mãos dos urbanistas, e a profissão vive seu melhor momento no País. "O trabalho do urbanista apareceu para toda a sociedade, as possibilidades de atuação hoje são muito mais amplas. Quando comecei, cerca de 20 anos atrás, ou você seguia a área de pesquisas, da academia, ou ficava na espera pública, atuando muito na legislação", conta Carlos Leite, sócio da Stuchi & Leite Associados e professor do Mackenzie.
PERFILUma das primeiras coisas que o profissional deve levar em conta antes de escolher o urbanismo como especialização é se tem o perfil certo para isso. "O urbanista tem relação com a sua cidade. E o urbanismo dá certo quando dá voz para todos, quando entende que o espaço público também é político e simbólico e precisa ser explorado pelos seus cidadãos", argumenta a urbanista portuguesa Branca Neves, assessora da Câmara Municipal de Lisboa em sua participação no Seminário Internacional Sampa Criativa, organizado pelo Sesc, Senac e Fecomércio de São Paulo no início de dezembro.
É um pouco o que pensa também Paula Santoro, arquiteta e urbanista pela FAUUSP, professora na Escola da Cidade e assistente técnica do Ministério Público do Estado de São Paulo nos temas habitação, urbanismo e meio ambiente: "Não basta ter perfil técnico, pois um urbanista tem um papel importante no processo de democratização do debate sobre a cidade. Um bom planejador urbano é um bom mediador, sabe ouvir, está aberto a negociar, não tem apenas uma solução formal na cabeça, ele 'vai onde o povo está'. Há também uma técnica, é preciso fazer uma boa leitura dos problemas urbanos para ter boas respostas".
FORMAÇÃO No Brasil, o urbanismo e a arquitetura estão atrelados na faculdade e ao estudante resta, ao longo do curso, começar a se dedicar pessoalmente à sua área de maior interesse. Já nos países da Europa e também nos Estados Unidos, as profissões são distintas e seu estudo separado, o que tem vantagens e desvantagens. "O urbanista brasileiro deve correr atrás de aprofundar seus conhecimentos com outros cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado. Recomendo verificar o que oferecem a Universidade Secovi e a Oficina Municipal, por exemplo, além de, ainda na faculdade, buscar estágios em prefeituras e órgãos públicos", diz Anderson Kazuo, diretor do Departamento de Urbanismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo.
"É muito bom fazer especialização e mestrado, pois a formação do arquiteto, em muitas faculdades, está muito voltada para projeto de edificações'', indica Paula Santoro. Para a urbanista, falta conhecimento técnico avançado em planejamento urbano no Brasil, e cita alguns exemplos: manejar informações dos censos e pesquisas estatísticas, analisar instrumentos ambientais (e os porquês das restrições ambientais), quantificar fluxos de veículos e pessoas para dimensionar espaços de circulação e convivência, conhecer instrumentos urbanísticos atuais já experimentados em outros lugares que possam inspirar novas formas de intervenção, metodologias de gestão participativa e democrática, como se forma o preço da terra e os efeitos das políticas propostas ou como é a gestão pública.
Áreas de atuação
PODER PÚBLICOÉ o viés mais comum do urbanismo. Trabalha-se dentro das prefeituras, atuando bastante na legislação em políticas urbanas e gestão pública |
ÁREA ACADÊMICADedica-se a pesquisas e estudos, mais do que execução dos projetos, e também a integrar o corpo docente de universidades e faculdades |
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