A pobreza condenada
Em sua coluna na CH 294, Laura de Mello e Souza mostra como os pobres, que até os séculos 15 e 16 eram tratados naturalmente pela sociedade no mundo ocidental, passaram a ser considerados pessoas improdutivas e inúteis.
Ilustração do espanhol José Benlliure y Gil que mostra São Francisco misturado aos pobres pedindo esmola. Nos séculos 15 e 16, houve uma mudança radical no tratamento dado à pobreza, que antes era associada à santidade.
No mundo ocidental, os séculos 15 e 16 viram-se marcados por transformações profundas. A centralização política substituiu a fragmentação medieval, o comércio cresceu e deu força à burguesia, o controle da terra se tornou privilégio de alguns, solapando a exploração comunal: os cercamentos ingleses, com seus muros de pedra que confinavam os carneiros e impediam o acesso dos seres humanos, são uma espécie de emblema desse processo.
A pobreza era considerada natural e, às vezes, associada à santidade
Até então, a pobreza era considerada natural e, às vezes, associada à santidade. Quem desejasse renunciar às vaidades terrenas começava, quase sempre, por abrir mão de seus bens, como São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loiola ou Santa Teresa de Ávila.
O voto de pobreza sempre foi requisito para ingressar na vida religiosa, a tradição cristã rezando ser mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Cada convento ou mosteiro tinha seus comensais pobres, que ali acorriam para receber a sopa e o pão. Cada aldeia tinha seus mendigos e aleijados, conhecendo-os pelo nome e os socorrendo conforme pudesse.
Mas as coisas mudaram de modo radical. Vastos contingentes de trabalhadores deixaram os campos rumo às cidades e quem nada tinha além da força de trabalho procurou viver dela, muitas vezes sem sucesso. Nas ruas, nas estradas, nos adros das igrejas, os mendigos constituíam multidão.
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