domingo, 22 de outubro de 2017

A HISTÓRIA DE LONDRINA MOSTRA QUE ANTES DOS INGLESES CHEGAREM...SEIS FAMÍLIAS JÁ ESTAVAM AQUI!

10/12/2013 | 00:01Marcelo Frazão
Seis famílias já estavam em Londrina antes da caravana da Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP), em 1929, sair do interior de São Paulo, região de Ourinhos, e aportar no Marco Zero da futura Londrina – então chamada por Patrimônio Três Bocas, na zona leste.
Bem longe das fotos onde os ingleses da CTNP apareciam, finos, de botas lustrosas e ternos brancos protegidos da terra vermelha em meio ao caos da mata semiaberta, ao menos um dos Durães batalhou forte por aqui antes da caravana.
Os seis núcleos
Veja a lista das seis famílias que pisaram aqui antes da caravana inglesa de 1929 tomar posse das terras adquiridas do Governo do Paraná
•Família Godoy, com Osmário Godoy (1922) e Álvaro Godoy (1925) – região da Mata dos Godoy (zona sul)
•Família Palhano (1926) – Gleba Palhano
•Família Durães (1927) – Fazenda Quati, hoje Jardim Shangri-lá (zona oeste)
•Família do capitão Euzébio Menezes (1927) – distrito de São Luiz e Tamarana
•Família de Arnoldo Bule (1928) – região sul, hoje área da Mata do Bule
•Família de Gustavo Avelino Correa (1928) – Distrito de Guairacá, região sul
Fonte: Livro “Londrina, Paraná, Brasil: Raízes e Dados Históricos”. Organização: Klaus Nixdorf, com textos de Walmor Macarini. Associação Pró-Memória de Londrina e Região, 2004.
Nas duas últimas décadas, Walter Durães, 69 anos, neto de Bertholdo Durães, dedicou tempo, pesquisa e preocupação para afirmar, paralelo à exaltação do mito inglês em Londrina, a história do avô e do papel do governo estadual de Curitiba na “descoberta” de Londrina. Por isso, chegou a ser tachado por louco.
Dois anos antes dos ingleses se instalarem em definitivo, entre 1927, Bertholdo Durães, mineiro de Montes Claros, empreiteiro derrubador de floresta, veio para o desconhecido Norte do Paraná. Estava a serviço de Afonso Alves de Camargo – que após deixar o Senado assumia, pela 2ª vez, o cargo de presidente do Estado do Paraná, equivalente ao posto de governador. Afonso Camargo, além de político, era dono de terras aqui na região.
“Meu avô veio com 70 homens e uma mulher e inaugurou o café em Londrina na época em que não havia nem muda: era tudo plantado no grão, com semente mesmo”, reforça o neto dos Durães, contabilizando o primeiro batalhão de pioneiros organizados a chegar na área. A eles, coube abrir a Fazenda Quati e estabelecer a primeira grande plantação de café de Londrina – mais tarde, o primeiro “showroom” da CTNP.
“Infelizmente, o nome deles é desconhecido. Mas são 70 homens e uma mulher”, repete, sempre dando o crédito. Em um dos totens do Memorial dos Pioneiros, em frente à Concha Acústica, centro de Londrina, a placa “Os Desbravadores” dedica uma homenagem aos desconhecidos.
A mando do então presidente do Paraná, Bertholdo Durães plantou os primeiros 40 mil pés de café dos quais se tem notícia em Londrina. Foi na região onde hoje está o Jardim Shangri-lá, zona oeste. “Lord Lovat nunca reconheceu que quando chegou aqui se deu de frente com uma imensa plantação de café”, diz Durães, sobre o sócio financista da Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP) que viera “tomar posse” das terras adquiridas a preço de nada do próprio Governo do Paraná.
A presença dos Durães e outras famílias esparsas no território e, ainda de posseiros, ajuda a quebrar um dos mitos fundadores de Londrina: o de que a região era um vazio demográfico quando a CTNP aqui aportou em 1929. Os Durães chegaram antes, embora o próprio Governo do Paraná tivesse vendido 840 mil hectares de terras – uma área equivalente a quase metade do País de Gales - por 6.776 contos de réis: mil à vista e o restante a pagar em 12 anos, conforme os registros históricos.
“Nós, londrinenses, preferimos vincular nossa identidade ao DNA inglês e demos as costas para os coxas-brancas. Ainda é tempo de homenagear os curitibanos e fazer a reconciliação histórica que tanto separa o interior da capital. Seria um reparo justo na história”, diz Walter Durães. “Londrina deveria dar a Comenda Ouro Verde in memoriam a Afonso Camargo, presidente do Paraná que incumbiu meu avô da tarefa”, insiste Walter Durães. 

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