Bem longe das fotos onde os ingleses da CTNP apareciam, finos, de botas lustrosas e ternos brancos protegidos da terra vermelha em meio ao caos da mata semiaberta, ao menos um dos Durães batalhou forte por aqui antes da caravana.
Os seis núcleos
Veja a lista das seis famílias que pisaram aqui antes da caravana inglesa de 1929 tomar posse das terras adquiridas do Governo do Paraná
•Família Godoy, com Osmário Godoy (1922) e Álvaro Godoy (1925) – região da Mata dos Godoy (zona sul)
•Família Palhano (1926) – Gleba Palhano
•Família Durães (1927) – Fazenda Quati, hoje Jardim Shangri-lá (zona oeste)
•Família do capitão Euzébio Menezes (1927) – distrito de São Luiz e Tamarana
•Família de Arnoldo Bule (1928) – região sul, hoje área da Mata do Bule
•Família de Gustavo Avelino Correa (1928) – Distrito de Guairacá, região sul
Fonte: Livro “Londrina, Paraná, Brasil: Raízes e Dados Históricos”. Organização: Klaus Nixdorf, com textos de Walmor Macarini. Associação Pró-Memória de Londrina e Região, 2004.
Nas duas últimas décadas, Walter Durães, 69 anos, neto de Bertholdo Durães, dedicou tempo, pesquisa e preocupação para afirmar, paralelo à exaltação do mito inglês em Londrina, a história do avô e do papel do governo estadual de Curitiba na “descoberta” de Londrina. Por isso, chegou a ser tachado por louco.
Dois anos antes dos ingleses se instalarem em definitivo, entre 1927, Bertholdo Durães, mineiro de Montes Claros, empreiteiro derrubador de floresta, veio para o desconhecido Norte do Paraná. Estava a serviço de Afonso Alves de Camargo – que após deixar o Senado assumia, pela 2ª vez, o cargo de presidente do Estado do Paraná, equivalente ao posto de governador. Afonso Camargo, além de político, era dono de terras aqui na região.
“Meu avô veio com 70 homens e uma mulher e inaugurou o café em Londrina na época em que não havia nem muda: era tudo plantado no grão, com semente mesmo”, reforça o neto dos Durães, contabilizando o primeiro batalhão de pioneiros organizados a chegar na área. A eles, coube abrir a Fazenda Quati e estabelecer a primeira grande plantação de café de Londrina – mais tarde, o primeiro “showroom” da CTNP.
“Infelizmente, o nome deles é desconhecido. Mas são 70 homens e uma mulher”, repete, sempre dando o crédito. Em um dos totens do Memorial dos Pioneiros, em frente à Concha Acústica, centro de Londrina, a placa “Os Desbravadores” dedica uma homenagem aos desconhecidos.
A mando do então presidente do Paraná, Bertholdo Durães plantou os primeiros 40 mil pés de café dos quais se tem notícia em Londrina. Foi na região onde hoje está o Jardim Shangri-lá, zona oeste. “Lord Lovat nunca reconheceu que quando chegou aqui se deu de frente com uma imensa plantação de café”, diz Durães, sobre o sócio financista da Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP) que viera “tomar posse” das terras adquiridas a preço de nada do próprio Governo do Paraná.
A presença dos Durães e outras famílias esparsas no território e, ainda de posseiros, ajuda a quebrar um dos mitos fundadores de Londrina: o de que a região era um vazio demográfico quando a CTNP aqui aportou em 1929. Os Durães chegaram antes, embora o próprio Governo do Paraná tivesse vendido 840 mil hectares de terras – uma área equivalente a quase metade do País de Gales - por 6.776 contos de réis: mil à vista e o restante a pagar em 12 anos, conforme os registros históricos.
“Nós, londrinenses, preferimos vincular nossa identidade ao DNA inglês e demos as costas para os coxas-brancas. Ainda é tempo de homenagear os curitibanos e fazer a reconciliação histórica que tanto separa o interior da capital. Seria um reparo justo na história”, diz Walter Durães. “Londrina deveria dar a Comenda Ouro Verde in memoriam a Afonso Camargo, presidente do Paraná que incumbiu meu avô da tarefa”, insiste Walter Durães.
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