Por Guilherme Vanzela
A crítica mais difícil a ser feita é a autocrítica. É muito fácil reclamar do sistema e dizer que isto ou aquilo está errado. Complicado é olhar a sua própria realidade e pensar: “opa, talvez minha parte não esteja sendo feita da melhor maneira”. E isso é o que acontece hoje com o Departamento de Comunicação da UEL.
Apenas para constar, lá é uma segunda casa deste que vos escreve. Formado e pós-graduado por lá e no último ano de sua segunda graduação, também por lá. Sou defensor do ensino público, universal, de qualidade, com boa remuneração para professores, servidores e afins. Porém, isso desde que se cumpra a função social de uma instituição pública.
Tal cumprimento se inicia em questões básicas, tais como: pontualidade para iniciar uma aula, planejamento, atualização, aprimoramento constante da didática e por aí vai. Mas na prática o que sempre vemos são professores chegando com aqueles 15, 20 minutos tradicionais de atraso, aulas pouco planejadas e por aí vai. Quanto a questão atualização … Vale um exemplo. Tive no meu segundo ano de graduação a disciplina de Marketing no curso de Relações Públicas com professor cujo salário líquido é de R$17.180,03. Sim, entendia muito das bases do marketing, mas ao ser questionado da questão do marketing digital apenas disse: “Questão do digital, eu não entendo”. Pois é, imagine se um professor de instituição privada também resolvesse parar no tempo.
Em tempos de pandemia, aflora a questão da total falta de autocrítica e desconexão da realidade. Para constar, um professor universitário concursado ganha, no mínimo, 10 mil reais/mês de salário líquido. Não é um salário que o deixará rico, mas para padrões Brasil, ter estabilidade neste montante é algo a se considerar. Pois bem, reforçando, em tempos de COVID-19, tem professor que reclama que há 4 anos o salário não tem reposição. Esquece o mesmo que a variação do PIB foi negativa neste período.
Quanto a palavra EaD, ela soa quase como Voldemort em Harry Potter. Não acredito que o ensino à distância seja a solução, mas o que custa aos professores – cuja remuneração está rigorosamente em dia, enquanto a população se acotovela para receber 600 reais na Caixa – fazer conteúdo neste período? Sim, há pessoas que não tem acesso (não deve dar 1% isso em uma instituição como a UEL, uma pesquisa chegou a ser feita, mas os resultados foram engavetados) e em consideração a estas pessoas, com toda certeza, o calendário precisa ser suspenso. Mas não existem atividades extra calendário que podem ser feitas? A instituição não tem uma função social?
Até o momento, posso destacar duas atividades que impactaram a sociedade. A primeira é um carro de som que passa por bairros periféricos orientando a população. A segunda é a continuidade do programa Tecer Idades que se adaptou aos novos tempos (aliás, conheçam este projeto brilhantemente coordenado pelo professor Régis). Pode ser que tenham mais atividades? Sim, pode. Mas o mínimo que se espera de um Departamento de Comunicação é que divulgue ações e atividades, em resumo, faça comunicação. E para constar, apenas com salário líquido de docentes concursados, chutando baixo, o contribuinte investe R$3 milhões/ano.
O que se pede aqui é uma autocrítica, uma conexão com a sociedade e com o momento em que vivemos. Ou no lugar de reclamar no facebook de meia em meia hora, poderia dialogar com pequenos comerciantes, empresários e ver se há algo em que o Departamento de Comunicação da UEL poderia ajudar. Ah, para finalizar, muitos professores falam constantemente de desigualdade. Mas meio que ignoram a desigualdade embaixo do próprio nariz, em que professores temporários ganham R$2.482,95.
Guilherme Vanzela, jornalista formado e pós-graduado pela UEL e estudante do último ano de Relações Públicas, também pela UEL
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