No Carnaval sem festas populares de 2022, O LONDRINENSE republica uma matéria de 2019, onde lembra histórias de muitas avenidas por onde o carnaval passou na cidade. Memória que merece ser preservada
Renato Forin Jr.
Especial O LONDRINENSE
Antes de começar a entrevista, ele vai até a estante, pega um porta-retrato e coloca ao seu lado. “Se é para falar de carnaval, esse quadro é importante”. Na fotografia, um jovem solar na avenida: chapéu branco, figurino alinhado, cintura quebrada para a direita, frigideira e baqueta em punho. “Ué, frigideira, Seu Braga?”. “A gente começava tocando frigideira e depois ia para os instrumentos mais complicados. Mas era gostoso, a gente fazia coreografia na frente da bateria, deitava no asfalto e batucava a frigideira”, recorda o mesmo homem do retrato, 46 carnavais depois.
Professor Joaquim Braga, o Braguinha, cantor e compositor, nos conduz ala a ala pela história da folia em Londrina desde os anos 1970, quando chegou à cidade vindo da zona rural de Ivaiporã. Acostumado à música sertaneja, ele descobriu no norte do Paraná o que era o samba ao ouvir de soslaio as batidas das rodas de gente simples da comunidade popular onde morava, próxima à Vila Santa Terezinha (Região Leste).
O sambódromo era a Av. Paraná, que receberia mais tarde o Calçadão. Braga não sabia que tinha sido clicado pelo fotógrafo até ir à banca na quarta-feira de cinzas e ver seu retrato estampado na capa do Novo Jornal, periódico recém-lançado pelo jornalista Délio César. Gargalhando: “Eu perguntei: ‘quem sou eu na história do carnaval em Londrina para estar na capa do jornal?’”.
Aos 67 anos, O Prof. Braga é autoridade no assunto e acumula motivos para ser o porta-voz do samba por aqui. Não bastasse ter fundado, em 1984, o Ziriguidum (chamado depois de Sambaguidum), primeiro grupo profissional de samba de Londrina, ele protagonizou outros marcos, como ter feito o primeiro show do gênero em um teatro na cidade (no Zaqueu de Melo, em 1990) e ser idealizador da lendária escola de samba Grêmio Recreativo Quilombo dos Palmares (em 1984). “O carnaval de Londrina nos anos 70 e 80, até início dos 90, era muito bom. Era uma efervescência no clube e na rua.
Quando a chave da cidade era entregue ao Rei Momo, a folia ficava por conta das escolas de samba (que desfilavam no domingo e na terça-feira), dos blocos de rua (que seguiam cortejo no sábado e na segunda-feira) e dos bailes de clubes (que tinham programação estendida de até cinco dias, da sexta à terça-feira), com concursos de fantasias ao modo daqueles realizados no Rio e em São Paulo. De acordo com Braga, as diferenças das escolas de samba para os blocos eram que estes não tinham carros alegóricos, a bateria era menor e estavam, em geral, ligados a associações ou clubes.“Tinha uma separação dos blocos da elite, como Country, Canadá, Iate, Clube Alemão, Grêmio, e os blocos dos grupos mais populares como AROL (Associação Recreativa Operária de Londrina) – das pessoas de renda baixa e pessoas negras, principalmente da Vila Nova -, o clube Canecão, o carnaval popular do Moringão e muitos outros clubes de bairros”. Alguns blocos ainda eram independentes, como o famoso “Pirulito”, formado por jornalistas e intelectuais liderados por Bernardo Pellegrini e Apolo Theodoro. As escolas de samba, que chegaram a reunir de 15 a 20 mil espectadores, eram formadas basicamente pela estrutura destas associações populares, que dedicavam-se com afinco na elaboração dos enredos, preparação de alegorias e ensaios das baterias ao longo do ano. “As escolas não tinham dificuldade de arregimentar gente para desfilar, tinham raízes nas suas comunidades”. Dentre as mais tradicionais, Braga cita a Escola Chão de Estrelas, Bafo da Jiboia, Escola de Samba Bahia, Unidos do Jardim do Sol – todas elas localizadas na região mais antiga de Londrina, da Vila Nova ao Shangri-lá.
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