Aliás, um estudo publicado no periódico Geology (Ref.2) mostrou que as correntes do subpolar Atlântico Norte modularam o clima do Sul da Groenlândia nos últimos 3 mil anos, particularmente durante o Período Medieval Quente. Esse período foi acompanhado por uma instabilidade climática e subsequente resfriamento local, fomentando novamente o avanço das geleiras na Groenlândia e coincidindo com o abandono dos Nórdicos da região. Porém, ainda é debatido o quão determinante foi o fator climático para esse processo de desistência da Groenlândia.Vale também mencionar que, até pouco tempo atrás, acreditava-se que os Vikings inicialmente colonizaram a Groenlândia na busca do marfim nos dentes caninos das morsas-do-Atlântico (Odobenus rosmarus rosmarus) para comercializarem na Europa (o marfim era muito valioso no mercado Medieval Europeu, o qual baseava objetos de artesanato muito apreciados pela elite - infelizmente, até hoje continua muito valioso (Marfim e o massacre dos elefantes). Porém, um estudo publicado em 2018 na Proceedings of the Royal Society B (Ref.3) revelou uma história diferente.Através de análises genéticas e arqueológicas, os pesquisadores concluíram que as primeiras colônias Vikings na Groenlândia foram formadas por habitantes Nórdicos procurando por terra para o plantio e/ou mesmo de exilados da região Escandinava. Já as causas do eventual fim das colônias Nórdicas na Groenlândia e colapso do comércio de presas de morsas no século XV são ainda incertas, mas a baixa demanda do mercado Europeu pelo marfim devido a fatores diversos e mudanças climáticas podem ser explicações. Entre os fatores associados à demanda, podemos citar a Peste Negra (1346-1353), a qual assolou o continente Europeu. Já no caso das mudanças climáticas - as quais podem ter tornado a Groenlândia menos convidativa - temos o impacto da Pequena Era do Gelo durante o período Medieval na Europa.
Um estudo publicado em 2019 no periódico Geology (Ref.4) reforçou que na época da ocupação Nórdica na Groenlândia, na parte sul dessa região, o clima estava relativamente quente (~10°C), similar ao de hoje. O estudo reconstruiu o registro climático Groenlandês dos últimos 3 mil anos, via análises isotópicas de oxigênio. Esse clima anormalmente mais quente em relação aos séculos anteriores e subsequentes provavelmente facilitou a persistência dos Nórdicos na região. Ainda segundo o estudo, o colapso dos assentamentos na área parece coincidir com a emergência de climas locais mais erráticos.
Nesse último ponto, um estudo mais recente publicado no periódico Science Advances (Ref.5) trouxe de um cenário distinto para explicar o abandono da Groenlândia pelos Nórdicos no início do século XV. Após reconstrução da histórica térmica e hidroclimática da região a partir de sedimentos de um lago adjacente a uma antiga fazendo Nórdica, os pesquisadores não encontraram nenhuma substancial mudança nas temperaturas durante o período de estabelecimento Nórdico. Por outro lado, eles encontraram que a região sofreu uma persistente tendência de seca, com um pico no século XVI. Um clima mais seco no verão teria reduzido de forma notável o crescimento de gramíneas, alimento essencial para manter os animais de criação no inverno (!). Essa tendência de seca inclusive mostrou-se concorrente com uma mudança na dieta da comunidade Nórdica na região, a qual começou a consumir mais carne de animais marinhos (ex.:foca) à medida que a atividade pecuária se tornou cada vez mais difícil. Nesse sentido, os autores do estudo concluíram que essa prolongada seca teria sido provavelmente mais determinante para afastar os Nórdicos do leste Groenlandês do que pequenas mudanças na temperatura - em soma a possíveis outros fatores sócio-econômicos e culturais.
------------ (!) De fato, segundo registros históricos e arqueológicos, os habitantes dos assentamentos Nórdicos na Groenlândia dependiam primariamente da criação de animais (ex.: gado e ovinos) sobre campos de pasto para o sustento. É estimado que a população total nesses assentamentos alcançou um pico de 2 mil pessoas.
----------- Aliás, em décadas recentes a região Sul da Groenlândia enfrentou secas severas que reduziram drasticamente a produtividade do país. Em 2008, seca levou a uma redução de 50% na produção de feno e de silagem, evento caracterizado como um problema a nível nacional. Por causa de uma falta de precipitação no verão, um substancial declínio na produção de feno ocorreu nos anos de 2010, 2011, 2012, 2015 e 2019. Enquanto que hoje essas sérias quedas de produtividade no campo podem ser amenizadas pela importação de feno, essa alternativa não era uma opção para os Nórdicos há centenas de anos.
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Sugestão de Leitura: Vikings: A Era Subestimada da Sociedade Nórdica
Boa parte das geleiras na Groenlândia possuem mais de 100 mil anos de idade, e a mais antiga geleira pode ter até 1 milhão de anos. Durante o último interglacial, há cerca de 125 mil anos, a Groenlândia em toda a sua parte sul e grande parte do Norte estava sem gelo, algo que se reverteu com o início da última era glacial, onde o gelo foi avançando e se acumulando ao longo de dezenas de milhares de anos, não derretendo novamente no atual interglacial devido às temperaturas mais baixas no Hemisfério Norte em relação àquele período. Nesse ponto, é também óbvio lembrar que se todo o gelo na Groenlândia tivesse derretido, o nível médio dos mares teriam subido em mais de 7 metros na época (1), e não há registro geológico de um evento do tipo.
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(1) Leitura recomendada: Derretimento do gelo nas regiões polares não aumenta o nível dos mares?
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
https://www.saberatualizado.com.br/2017/08/aquecimento-global-uma-problematica.html (Ref.208-209)
Lasher, G. E., & Axford, Y. (2019). Medieval warmth confirmed at the Norse Eastern
Settlement in Greenland. Geology, 47(3), 267–270
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