quarta-feira, 5 de junho de 2024

OPINIÃO: O QUE TEMOS. O QUE SOMOS.

 Estadão

Foto do(a) blog

Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião
|

A história material avança. Mais bens sábias-mais confortoMais

mais máquinas-mais conforto. Mas as pessoas estão mais

 inteligentes, mais cultas, mais tolerantes, mais sábias?


 Foto: Estadão


PUBLICIDADE

   Nunca tivemos tanto. No entanto, com tanto pelo que zelar - o carro, a casa, os móveis delicados, a pintura, as máquinas, os celulares, relógios, roupas, acessórios, cosméticos - negligenciamos mais e mais o que somos, por debaixo da montanha de escombros polidos.

Nas casas proliferam televisores, refrigeradores, tanquinhos. Máquinas de tudo: lavar, passar, entreter, limpar. Máquinas de passar o tempo.  Máquinas de existir. Nas ruas proliferam vendas, bancas, lojas, barracas, automóveis, guarda-chuvas, telas,  cartazes.

continuamos querendo mais.   que ter. E, quanto mais 

tememos perder.  Tudo o que possuímos nos possui também.                                  Você é prisioneiro  dos seus suspensórios e joias, dos seus carros e sapatos.

A criança entediada pede um brinquedo  a cada feriado. Depois outro.                        Mais um. Abandona-os  logo num canto qualquer. A alegria é ganhar/possuir.    Alguns têm muito, outros, tão pouco. Mas quem tem frequentemente esquece                                o problema de fundo. Não é que tenha pouco. É que ter é muito pouco. 

Longe e perto, numa esquina ensombrada, um outro nos observa. Não tem          forma. No fundo do espelho um ponto de luz diminuto quase não se enxerga.   Dentro das nossas cabeças, o mundo interno, imaterial e abstrato, onde se engendram e descartam sonhos e ideias, esperanças e temores, repousa. 

O lugar onde a cada dia se constrói o sentido da vida segue atrofiado -                        sem sentido.

Compramos, mas não evoluímos. Parcelamos em doze vezes no cartão,                      mas  nos endividamos sobretudo com nós mesmos. Propositadamente                                  confundem ter e ser. Ser é evoluir: somar e dividir. Mais tolerância, amor,           liberdade, solidariedade, empatia. Um estender as mãos para si próprio e                  para o mundo. Cada homem é a humanidade inteira. Ter, ao contrário,                          é uma alegria Conquistadas as condições fundamentais de conforto,                                       a fronteira a cruzar está dentro de nós. Senão passaremos a vida                          cuidando do que está externo a nós. O carro, a casa, os móveis. É pouco.                              É preciso também cultivar o nosso jardim, espírito e ideias.


Ter tudo é insuficiente.

Twitter: http://twitter.com/essenfelder

Nenhum comentário:

Postar um comentário