Gabriel Perissé - Afirma que a leitura é uma prática que precede a escrita. Estou falando de uma leitura interpretativa, não apenas mecânica. Ler bem significa tirar sentido de um texto, gerar um raciocínio. É um exercício também de imaginação.
Que envolve três fatores: a qualidade dos textos que circulam, o acesso a eles e mediação necessária entre o leitor e o texto, que é feita pelo professor e pelos pais. Sobre esse último ponto, temos um problema e tanto. Para começar, os professores não leem. Consequentemente, também não escrevem. Temo falhas sérias na formação dos que têm a função de ensinar a ler. A escola não ensina a ler para questionar, ensina a ler para acatar. Daí surgem os leitores com dificuldade para entender ironias, as entrelinhas. E não adianta nada aulas com macetes, técnicas, dicas e truques. Isso não resolve o problema.
Há um contexto histórico. Até as décadas de 60 e meados da década de 70, tínhamos uma leitura sofisticada. Até na imprensa. Pense em textos de Nelson Rodrigues, por exemplo. Ou do Otto Lara Resende. Depois os textos de jornais e revistas entraram num período mais técnico, neutro e objetivo. A ditadura militar, por sua vez, apagou qualquer estímulo ao pensamento crítico, ao mesmo tempo em que a escola passou a ser acessível para muito mais gente. A partir dos anos 80, colhemos o resultado disso. Surgiu uma geração que não sabe criticar, ponderar, a pensar por conta própria, que busca nos textos não a contundência de antes, mas apenas a informação. A formação ruim dos professores é fruto desse cenário. O próprio curso de Letras ficou desprestigiado.
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